Casa da Arquiteta 2 – As Soluções Sustentáveis

Por Lilian Nagato


Se vc viu o post original da Casa da Arquiteta, talvez tenha ficado curiosa/o com algumas das soluções sustentáveis que adotamos… Então este novo post é pra mergulharmos mais fundo na questão da sustentabilidade! Vamos lá?

Lá no primeiro post, dissemos que abrimos mão do terceiro quarto (uma suíte) para termos um jardim. Será que valeu a pena? Veja o que ganhamos com isso…

Mais luz natural

Ao demolir o terceiro quarto, o pequeno corredor em volta da casa virou um jardim, que trouxe muito mais luz para todos os cômodos com janelas próximas. Até os vizinhos saíram ganhando.

Maior permeabilidade do solo

Antes, 100% do lote encontrava-se impermeabilizado. Com a reforma, foi quebrado o piso existente do quintal, e foi deixada pavimentada apenas a passagem para a edícula. Como resultado, o lote ficou com 21,3% de sua área permeável, garantindo que a água da chuva possa penetrar no solo, evitando assim seu escoamento para o sistema de drenagem convencional da cidade, contribuindo para diminuir enchentes e a formação de ilhas de calor, e possibilitando recarga do lençol freático, sua absorção pelas plantas, sua evaporação… Para aumentar a permeabilidade do solo, foram escavadas covas grandes para o plantio de mudas, e também uma vala de infiltração (preenchida com brita) abaixo do telhado da edícula. O piso de ardósia da passagem para a edícula tem caimento para o jardim, que foi finalizado com nível abaixo do pavimento.

Maior retenção de água no lote

Sobre a laje da sala (que também apresentava infiltrações), havia telhas de cimento amianto e algumas calhas muito antigas para o escoamento da água da chuva. Na reforma, as telhas foram retiradas, e foi feita a impermeabilização da laje e das calhas, e a instalação de um teto jardim. Com o teto jardim, aumentamos a retenção de água de chuva no lote, melhoramos o isolamento térmico da sala, e ainda temos mais espaço para cultivo de plantas. Contribui-se, novamente, para diminuir enchentes e ilhas de calor.

Reaproveitamento da água da chuva

No corredor lateral, foram instalados reservatórios para captação e armazenagem de água de chuva. As calhas que fazem a captação das águas do telhado da casa já existiam, e foram apenas acrescentados os reservatórios nos pontos de descida da água. O sistema adotado funciona por gravidade, dispensando o uso de bombas; foi projetado especificamente para o local, tendo como base os projetos de Edison Urbano (www.sempresustentavel.com.br) e de Marco Antônio Jorge (patenteado no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual, sob o código MU8400084-8 U2, implantado em habitações populares em Americana, SP), e construído com tubos de PVC de 300mm de diâmetro. A água é diretamente utilizada para regar o jardim e outros usos não potáveis, como lavagem de pisos.

Paisagismo mais produtivo

No jardim de pequenas dimensões, foram aproveitados diversos espaços para o plantio de ervas, temperos, frutos, verduras, etc., utilizando-se sistemas propostos pela Permacultura¹, como a espiral de ervas. A espiral de ervas cria condições adequadas ao desenvolvimento vegetal, a partir da criação de microclimas (mais ou menos sol ou sombra) e de condições de solo (mais ou menos umidade) apropriadas a cada espécie, com condições de acessibilidade facilitadas ao usuário.

Também plantamos maracujá próximo à fachada do escritório e do quarto de hóspedes, na edícula, voltada ao norte, para ajudar a sombrear os grandes vãos.

Além de tudo isto, também incorporamos…

Compostagem de lixo orgânico doméstico

Foi colocada na lavanderia, sob a escada de acesso ao escritório, um minhocário, estrutura que também segue os princípios da Permacultura, destinada à compostagem de lixo orgânico doméstico. Trata-se de um conjunto de caixas interligadas, onde é colocado o lixo orgânico não cozido (como cascas de frutas e legumes, restos de verduras, etc.), onde ocorre a compostagem, ou seja, a decomposição da matéria orgânica para uso como fertilizante em plantios. Como resultado, temos a redução da quantidade de lixo produzida, e a fabricação no local dos adubos/fertilizantes utilizados no jardim.

Energia solar

Para completar o pacote de sustentabilidade, não poderíamos deixar de usar a energia solar, tão abundante no nosso país. Utilizamos a sua forma mais barata, a energia solar em sua forma térmica, para (pré)aquecer diretamente a água do chuveiro. Foi utilizado o Aquecedor Solar de Baixo Custo fabricado pela Belosol (fora de mercado atualmente), baseado na tecnologia social desenvolvida pela Sociedade do Sol (www.sociedadedosol.org.br). As placas solares foram posicionadas sobre o teto jardim, voltadas a norte, e estão ligadas a um reservatório exclusivo para água quente, isolado com EPS, colocado entre a laje e o telhado.

Nota

¹ Permacultura, segundo seus autores, é “um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis”, cujo objetivo é a “criação de sistemas que sejam ecologicamente corretos e economicamente viáveis; que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que, assim, sejam sustentáveis a longo prazo”. MOLLISON, B. Introdução à Permacultura. Tyalgum: Tagari Publications, 1991, p. 13.

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